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Discurso |
25-04-2024 19:09:05
| Fonte: CIPRA
DISCURSO DO PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO
50 anos do 25 de Abril
<p>-Excelência Senhor Presidente Marcelo Rebelo de Sousa,</p><p>Presidente da República e Chefe de Estado de Portugal</p><p>-Excelências Senhores Presidentes da República e Chefes de Estado de Moçambique, de Cabo Verde, da Guiné Bissau, de São Tomé e Príncipe e de Timor Leste.</p><p>-Excelência Senhor Primeiro-Ministro de Portugal</p><p>-Altas Entidades do Estado Português e convidadas.</p><p>-Minhas Senhoras, Meus Senhores</p><p><br>Permitam-me começar por agradecer ao Presidente Marcelo Rebelo de Sousa pelo amável convite que nos foi endereçado para participarmos das comemorações do Quinquagésimo Aniversário do 25 de Abril de 1974.</p><p>Nessa data, os portugueses protagonizaram o histórico acontecimento que passou para a História como a Revolução dos Cravos, que pôs fim a mais de 40 anos de ditadura salazarista, responsável pela opressão não só do povo português como também dos povos das então colónias portuguesas.</p><p>Reconhecemos a coragem e heroísmo dos capitães de Abril e dos resistentes portugueses que lutaram por todas as formas e meios contra a ditadura, enfrentando a máquina opressora do regime, a PIDE/DGS e seus apêndices, que não se coibiam de torturar e matar os melhores filhos desta terra.</p><p>A Revolução de Abril resgatou os direitos cívicos e políticos que estiveram proibidos e anulados pela ditadura por quase meio século. Ela quebrou o isolamento internacional de Portugal perante a comunidade internacional e possibilitou a implementação de um Estado Democrático de Direito onde os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos portugueses estão hoje constitucionalmente assegurados.</p><p>Minhas Senhoras, Meus Senhores</p><p>Enquanto o povo português lutava contra o fascismo e a ditadura salazarista desde 1932, nós, os povos africanos colonizados por Portugal, lutávamos desde o século XV contra a colonização portuguesa e suas consequências como a escravatura e a pilhagem das nossas riquezas.</p><p>Lutámos pelo fim dos abusos, dos crimes e da violação dos direitos humanos cometidos pelo regime colonialista contra nossos povos durante séculos. Lutámos pela nossa dignidade enquanto seres humanos que somos, que devem ter o mesmo direito à liberdade, o direito a sermos os senhores do nosso próprio destino.</p><p>As lutas armadas pela nossa Independência na Guiné Bissau, em Angola e em Moçambique, atingiram um estádio de tal modo avançado, sobretudo após o fracasso da operação Mar Verde, o assassinato de Amílcar Cabral e a proclamação da Independência pelo PAIGC nas colinas de Madina de Boé em 1973 na Guiné Bissau, o fiasco da operação Nó Górdio e as pesadas baixas infringidas pela FRELIMO e pelo MPLA às tropas coloniais portuguesas em Moçambique e no Norte e Leste de Angola, que fizeram precipitar os acontecimentos que levaram ao levantamento e golpe militar do 25 de Abril de 1974 em Portugal.</p><p>A luta de libertação nas então colónias portuguesas em África fez aumentar nos portugueses o sentimento e a consciência da necessidade da queda do regime que era ditador e fascista, mas ao mesmo tempo colonialista.</p><p>A nossa causa era a mesma que a do povo português e, por isso, juntos lutámos e juntos vencemos o mesmo inimigo, o colonialismo e a ditadura fascista de Salazar e Caetano.</p><p>Mantemos hoje fraternais laços de amizade entre os nossos respectivos povos, ao mesmo tempo que estabelecemos uma profícua e mutuamente vantajosa cooperação económica entre os nossos países.</p><p>A Revolução de Abril inaugurou uma nova fase da história da nação portuguesa, que conseguiu estabelecer nos anos que se seguiram uma democracia criativa, vibrante e inclusiva, capaz de manter relações fraternais com as suas antigas colónias, assentes na partilha de um património linguístico, histórico e cultural comum.</p><p>Depois de termos alcançado as nossas independências nos anos 70, alguns dos nossos países, como Angola e Moçambique, tiveram de enfrentar ainda a invasão dos seus territórios pelas forças do regime do apartheid da África do Sul e seus protegidos internos.</p><p>Graças à nossa determinação em não aceitar uma nova dominação, enfrentámo-los em várias frentes, culminando com a derrota na histórica batalha do Cuito Cuanavale em Angola aos 23 de Março de 1988, acontecimento que mudou de forma irreversível a correlação de forças no tabuleiro do xadrez político da África Austral.</p><p>O regime do apartheid caiu, a Namíbia tornou-se num Estado livre e independente e a África do Sul instituiu um regime democrático, governado por quem conquistou nas urnas a maioria dos votos dos eleitores.</p><p>Soubemos vencer e superar o desafio da nossa existência como nações livres e soberanas, estabelecer a paz e a reconciliação entre nós, estando hoje empenhados no desenvolvimento económico e social dos nossos países.</p><p>O desafio de hoje é o da consolidação da democracia, da diversificação e fortalecimento das nossas economias, do aumento da oferta de bens e serviços, do aumento das exportações e do aumento da oferta de postos de trabalho para a redução do desemprego.</p><p>Minhas Senhoras, Meus Senhores</p><p>Nesta data em que comemoramos os cinquenta anos do 25 de Abril, o mundo assiste com preocupação ao crescimento e proliferação de movimentos extremistas, da xenofobia, do neonazismo, da intolerância política e do fundamentalismo religioso, do terrorismo, que ameaçam as democracias e procuram, por meios democráticos nalguns casos mas, sobretudo, por métodos e caminhos inconstitucionais, chegar ao poder.</p><p>Juntemos mais uma vez as nossas vontades e energias para enfrentar e derrotar estas forças negativas que hoje se apresentam com novas roupagens, mas que ameaçam as liberdades fundamentais dos cidadãos, a vida humana e o progresso social das nações.</p><p>Nós, que lutámos pela liberdade que hoje comemoramos, temos o dever moral de condenarmos a agressão, ocupação e anexação de territórios ucranianos pela Rússia e de exigir o respeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia e que sejam envidados os esforços diplomáticos necessários para que seja alcançada a paz definitiva na Ucrânia e na Europa no geral.</p><p>Condenamos mais uma vez a acção terrorista do passado dia 7 de Outubro que vitimou milhares de pacíficos cidadãos israelitas e fez centenas de reféns, que devem ser postos em liberdade.</p><p>Condenamos também a reacção desproporcional de Israel, que apesar do direito que lhe assiste de defender os seus cidadãos e o Estado de Israel, não pode ter carta branca, luz verde para matar indiscriminadamente crianças, mulheres, velhos, doentes acamados, jornalistas e trabalhadores de organizações humanitárias internacionais.</p><p>O direito humanitário internacional deve ser respeitado em situação de guerra. O mundo não pode permitir que, com o argumento da necessidade da eliminação do Hamas, o povo palestino seja exterminado não só pela acção das bombas, como também pela negação imposta pela força ao mais elementar direito humanitário, o do acesso aos alimentos, à água e assistência médica e medicamentosa.</p><p>Não há povos terroristas, o povo palestino é como todos os povos, um povo pacífico que almeja viver em paz e harmonia com outros povos, nos marcos de um Estado reconhecido internacionalmente.</p><p>É chegado o momento de se exigir o fim desta guerra e começarmos a dar, sem mais demora, os passos concretos e necessários para a criação de facto do Estado da Palestina, como determinam as várias Resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que considera esta a única forma segura e duradoura de solução deste velho conflito, no interesse de ambos os povos, o judeu e o palestino, de Israel e da Palestina.</p><p>Tudo deve ser feito pela comunidade internacional no sentido de se evitar a iminente probabilidade do escalar e alastrar do conflito naquela que é uma das mais voláteis regiões do nosso planeta. Independentemente de quem arremessou a primeira pedra, a Israel e ao Irão apelamos à necessidade da máxima contenção para se preservar a paz e segurança mundiais.</p><p>Permitam-me que, nesta ocasião solene, transmita um abraço fraterno do povo angolano ao povo português.</p><p>A partir desta tribuna, convido todos os Chefes de Estado e de Governo dos Estados membros da CPLP, para nos honrarem com a sua presença nas comemorações do Quinquagésimo Aniversário da Independência Nacional de Angola no próximo ano de 2025, o que será oportunamente formalizado pelosos canais apropriados.</p><p>Muito Obrigado pela atenção dispensada.</p>